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27 December 2018

20 November 2018

Terceira Guerra Mundial

Referência:
https://www.noticiasaominuto.com/pais/1115184/a-terceira-guerra-mundial-ja-comecou-diz-historiador

Ao que parece, a atual situação do caos midiático, da desumanização dos imigrantes, do desprezo à classe trabalhadora, aos socialistas, aos sindicatos, e a todos os partidos políticos e também ao judiciário é preocupante. Mas também um sinal dos tempos. Esse caos assinala uma perda da credibilidade dos poderes na visão do povo e consequentemente o abalo da soberania dos Estados em todo o mundo.

Falam de uma guerra a espreitar. Uma guerra como a Primeira e Segunda guerras mundiais. Talvez mais até parecida com a Segunda, na minha opinião, no que diz respeito à hermenêutica e leitura de textos e realidades.

Na Segunda Guerra tivemos também a desumanização dos judeus, igualmente por questões políticas e econômicas, como hoje desumanizamos aos foragidos muçulmanos, por exemplo. Todos generalizados dentro de um homem bomba.

Mas eu penso que uma real terceira guerra mundial, que parece já haver começado, se enraíza muito mais numa conhecida guerra santa do que nos deixamos perceber. Espera você, acredito, ouvir a mouros contra cristãos aqui, mas não. Essa guerra religiosa se encontra dentro do próprio cristianismo ocidental. Nos encontramos numa situação histórica da continuação da reforma do cristianismo.

A primeira reforma, a de Lutero, se deu na individualização da igreja (i.e. a igreja e a verdade se encontra em cada um de nós) e conseqüentemente na dessacralização do livro bíblia e da palavra divina, agora não apenas disponível à leitura de exegetas especializados em leitura sacra e tradução do aramaico e latim, mas a todos nós comuns, agora alfabetizados, especialistas ou não, e com um interesse autoditada ou não em ler a bíblia. Aqui, tudo o que necessitamos é uma cópia da bíblia, um pastor e a necessária fé, chama da igreja individual de todos os cristãos.

Vale ressaltar também o fato de que a individualização da igreja está intrinsecamente ligada, queiramos acreditar ou não, debater ou não, à fundação da imprensa e comercialização do livro.

Agora, em pleno início do seculo XXI, com a tão mencionada globalização, que foi possível apenas porque todos os indivíduos têm direito e possibilidade de acesso à internet e à informação (ou verdade), estamos de volta à reforma cristã, que apesar de esquecida dentre os debates intelectuais está muito presente. Enquanto os indivíduos e intelectuais debatem superficialidades da linguagem, guerreiam percepções opostas de uma mídia medíocre e polarizada, e polarizam partidos politicos como se fossem times de futebol religiosamente arraigados, assim como Rangers vs. Celtic (na Grã Bretanha), poucos percebem a situação de relativização da linguagem e, portanto, da realidade pela qual estamos passando.

Estamos agora no processo de individualização da imprensa. Veja só, não mais é satisfatório apenas o acesso à verdade, à bíblia (já traduzida, aliás, por um especialista), mas agora cada indivíduo tem o poder de traduzir ou republicar e reeditar uma tradução da bíblia se quiser, muito facilmente. É o poder da publicação da verdade, encontrada na informação. Com o poder de decidir o que é verdade e o que é falso historicamente, politicamente e socialmente, no âmbito individual, caímos numa depressão da linguagem e da realidade. Tudo é relativo, assim como Einstein nos disse em sua teoria.

Estamos num dilema, não entre capitalismo e comunismo, --isso é bicho papão morto-vivo reavivado e introduzido à vida burguesa atual, para fazê-la mais palatável --, e menos também um dilema entre protestantismo e catolicismo, mas entre o que é real e o que não é, no âmbito individual. Chegamos no ponto infernal mas essencial da individualização desmezurada e sem auto-avaliação. Nos deparamos com um espelho infinito do "eu" e nos perdemos sem saber o que fazer. Estamos morrendo de medo.

Adiantaria voltar a um nacionalismo cego e se encaminhar a uma guerra mundial, para trazer a segurança de uma realidade assimilável de novo? Talvez por uma ou duas décadas mais e se queimássemos todos os livros e desconectássemos a internet em todas as casas. Mas mesmo assim, ignorando o problema e tentando esquecer esse espelho infinito da realidade que é o Ego, apagando tudo e qualquer discórdia, chegaríamos mais cedo ou mais tarde, mais uma vez e sempre, a esse mesmo ponto. O ponto da aceitação ou não de que a verdade é e não é. É a lei do eterno retorno para qualquer pensamento metafísico.

A importância da interpretação e entendimento da linguagem no âmbito individual talvez seja a nossa única saída, para uma transcendência. Sim, uma transcendência. Precisamos mudar, não apenas reformar o que está fora de nós, pois a linguagem não está fora de nós, mas mudar de dentro para fora. Para, quem sabe, talvez poder nos liberar desses grilhões das três dimensões dessa civilidade e civilização eurocêntrica e maniqueísta.



Karinna Alves Gulias

24 September 2018

Avisa-me

Avisa-me que o tempo já passou
Enquanto as suas pernas balançam
dentro d'água

Amando os outros (peixes)

O vento pendente e descalço
de diferentes vocalizações
ou suspiros

Que você respira enquanto dorme

Ao alto, lá fora,
uma arquitetura de boquerones
toma o céu
E anuncia a tarde

Saudoso de olhos do leste

Eu já não me satisfaço com o sacrifício
O sacrifício das aparências já basta
Eu, que segui o caminho dos mais novos
e as letras dos mais velhos

Dos defuntos sem vaidades

Avisa-me que o tempo já passou
e as competições são inúteis
Os filhos dos outros cresceram
As portas e janelas
abriram e fecharam muitas vezes
Antes de virarem árvore outra vez
aos olhos do meu bebê.


De Karinna Alves Gulias

16 August 2018

Mais Alberto Caeiro - favoritos

XXXII

Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.

Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.

E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.

(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importa a mim os homens
E o que sofrem ou supõe que sofrem?
Sejam como eu -- não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros,

Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)

Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.

(Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com o florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa -- existir claramente,
E saber fazê-lo sem pensar nisso.

E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?


XXXIV

Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa...

Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente...

Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela tiver, que a tenha...
Que importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.


De "Poemas completos de Alberto Caeiro", Fernando Pessoa

8 August 2018

Saodaj


15 June 2018

VII

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,

Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,

E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.


De "O guardador de rebanhos" - Alberto Caeiro

24 April 2018

Poemas do meu novo livro em Mallarmargens

Poemas do meu novo livro foram publicados semana passada na revista Mallarmargens. Confiram aqui:

http://www.mallarmargens.com/2018/04/significados-da-continuacao-poemas-de.html?m=1

24 February 2018

Biscoito da sorte

Saia do facebook e encontre o seu centro outra vez.

6 January 2018

Seguindo o olhar

As montanhas que andam sobre as águas do leste
Não apontam para uma só direção

Elas existem na cortina de fumaça
Que despega de nossos olhos
curiosos e preguiçosos de tempo


Karinna A. Gulias