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20 November 2018

Terceira Guerra Mundial

Referência:
https://www.noticiasaominuto.com/pais/1115184/a-terceira-guerra-mundial-ja-comecou-diz-historiador

Ao que parece, a atual situação do caos midiático, da desumanização dos imigrantes, do desprezo à classe trabalhadora, aos socialistas, aos sindicatos, e a todos os partidos políticos e também ao judiciário é preocupante. Mas também um sinal dos tempos. Esse caos assinala uma perda da credibilidade dos poderes na visão do povo e consequentemente o abalo da soberania dos Estados em todo o mundo.

Falam de uma guerra a espreitar. Uma guerra como a Primeira e Segunda guerras mundiais. Talvez mais até parecida com a Segunda, na minha opinião, no que diz respeito à hermenêutica e leitura de textos e realidades.

Na Segunda Guerra tivemos também a desumanização dos judeus, igualmente por questões políticas e econômicas, como hoje desumanizamos aos foragidos muçulmanos, por exemplo. Todos generalizados dentro de um homem bomba.

Mas eu penso que uma real terceira guerra mundial, que parece já haver começado, se enraíza muito mais numa conhecida guerra santa do que nos deixamos perceber. Espera você, acredito, ouvir a mouros contra cristãos aqui, mas não. Essa guerra religiosa se encontra dentro do próprio cristianismo ocidental. Nos encontramos numa situação histórica da continuação da reforma do cristianismo.

A primeira reforma, a de Lutero, se deu na individualização da igreja (i.e. a igreja e a verdade se encontra em cada um de nós) e conseqüentemente na dessacralização do livro bíblia e da palavra divina, agora não apenas disponível à leitura de exegetas especializados em leitura sacra e tradução do aramaico e latim, mas a todos nós comuns, agora alfabetizados, especialistas ou não, e com um interesse autoditada ou não em ler a bíblia. Aqui, tudo o que necessitamos é uma cópia da bíblia, um pastor e a necessária fé, chama da igreja individual de todos os cristãos.

Vale ressaltar também o fato de que a individualização da igreja está intrinsecamente ligada, queiramos acreditar ou não, debater ou não, à fundação da imprensa e comercialização do livro.

Agora, em pleno início do seculo XXI, com a tão mencionada globalização, que foi possível apenas porque todos os indivíduos têm direito e possibilidade de acesso à internet e à informação (ou verdade), estamos de volta à reforma cristã, que apesar de esquecida dentre os debates intelectuais está muito presente. Enquanto os indivíduos e intelectuais debatem superficialidades da linguagem, guerreiam percepções opostas de uma mídia medíocre e polarizada, e polarizam partidos politicos como se fossem times de futebol religiosamente arraigados, assim como Rangers vs. Celtic (na Grã Bretanha), poucos percebem a situação de relativização da linguagem e, portanto, da realidade pela qual estamos passando.

Estamos agora no processo de individualização da imprensa. Veja só, não mais é satisfatório apenas o acesso à verdade, à bíblia (já traduzida, aliás, por um especialista), mas agora cada indivíduo tem o poder de traduzir ou republicar e reeditar uma tradução da bíblia se quiser, muito facilmente. É o poder da publicação da verdade, encontrada na informação. Com o poder de decidir o que é verdade e o que é falso historicamente, politicamente e socialmente, no âmbito individual, caímos numa depressão da linguagem e da realidade. Tudo é relativo, assim como Einstein nos disse em sua teoria.

Estamos num dilema, não entre capitalismo e comunismo, --isso é bicho papão morto-vivo reavivado e introduzido à vida burguesa atual, para fazê-la mais palatável --, e menos também um dilema entre protestantismo e catolicismo, mas entre o que é real e o que não é, no âmbito individual. Chegamos no ponto infernal mas essencial da individualização desmezurada e sem auto-avaliação. Nos deparamos com um espelho infinito do "eu" e nos perdemos sem saber o que fazer. Estamos morrendo de medo.

Adiantaria voltar a um nacionalismo cego e se encaminhar a uma guerra mundial, para trazer a segurança de uma realidade assimilável de novo? Talvez por uma ou duas décadas mais e se queimássemos todos os livros e desconectássemos a internet em todas as casas. Mas mesmo assim, ignorando o problema e tentando esquecer esse espelho infinito da realidade que é o Ego, apagando tudo e qualquer discórdia, chegaríamos mais cedo ou mais tarde, mais uma vez e sempre, a esse mesmo ponto. O ponto da aceitação ou não de que a verdade é e não é. É a lei do eterno retorno para qualquer pensamento metafísico.

A importância da interpretação e entendimento da linguagem no âmbito individual talvez seja a nossa única saída, para uma transcendência. Sim, uma transcendência. Precisamos mudar, não apenas reformar o que está fora de nós, pois a linguagem não está fora de nós, mas mudar de dentro para fora. Para, quem sabe, talvez poder nos liberar desses grilhões das três dimensões dessa civilidade e civilização eurocêntrica e maniqueísta.



Karinna Alves Gulias