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26 May 2009

CONCLUSÃO

Sonhar, acordar e sair
abraçar e beijar,
ler e pensar
mover as mandíbulas e articular
palavras
e outras tantas coisas que se convertem
em solidão e crescem
até alcançar sem conclusão
o espaço oceânico da morte
onde algo espera.

(Marcelo Ariel, Tratado dos Anjos Afogados, 2008)

NA MORTE

Na morte
o núcleo do silêncio
onde logo estaremos
uma vez dentro
sim é não
e não é nada
os de fora dizem
morremos
não podem ouvir nossa voz
num sussurro dizendo
tudo está em nós.

(Marcelo Ariel, Tratado do Anjos Afogados, 2008)

O Céu no Fundo do Mar: Seu Nome

recolhe a tua vida secreta
como a concha devolve à água
nosso silêncio
e o ar: esse quase-onisciente cão da alma
conduz a palavra até a árvore
que a sonha...

- assim o nosso canto surdo aos obreiros do ruído, alvorada sobre
o pó de setenta e sete mil, a essência vizinha da querubínica voz
que nos convida
a esquecer
o futuro
para viver
o começo,
esquecer o presente
para viver
o instante,
esquecer o passado
para viver
o retorno,
a esquecer nosso próprio nome
para ser
a humilde totalidade
que havia antes -

recolhe a tua vida secreta
como a concha devolve à água
nosso silêncio
e o ar: esse quase-onisciente cão da alma
conduz a palavra até a árvore
que a sonha...

assim nosso canto
atravessará este futuro & obscuro
céu no fundo do mar
para celebrar
teu segundo nascimento

Marcelo Ariel & Mariana Ianelli (copiado do blog do Marcelo Ariel Ou o Pensamento Contínuo)

21 May 2009

Canção "Do Ai" do filme Three Seasons, vietnamita.

Poderá alguém um dia saber
Quantos talos tem um arrozal?
Quantas curvas tem um rio?
Quantas camadas tem uma nuvem?

Alguém poderá varrer as folhas
de uma floresta?
E dizer ao vento para não
sacudir mais as árvores.

Quantas folhas um bicho-da-seda tem de comer
para fazer um vestido com as cores do passado?
Quanta chuva deve cair do céu
antes do Oceano
transbordar de lágrimas?
Quantos anos a lua
tem de ter antes que envelheça?

No meio da noite, a lua
vem e fica a espreitar.
Ela que pode roubar
o meu coração.

Sempre cantarei
canções de alegria.

No meio da noite, a lua
vem e fica a espreitar.
Ela que pode roubar
o meu coração.

Quantas folhas um bicho-da-seda tem de comer
para fazer um vestido com as cores do passado?

20 May 2009

Ao interior da terra

Depois que Filho comeu todos os peixes do mundo
passou a fazer sentido, o peixe.

Agarrou-se nas costas do urubu velho
e marchou para o interior da terra.

Os contos do céu se iniciaram
com o revolver da terra.


K.A.G

19 May 2009

Perguntas de Tang (não é o suco hehe)

(...)
TANG para XIA JI: Têm o alto, o baixo, as oito direções limites? Contêm eles átomos?
(...)
XIA JI: Se não existe nada, não existem limites. Se existe algo, existem átomos. Como sei isso? Além do limite da zona em que nada existe, não existe limites. Dentro de um átomo, não existe átomo. A inexistência de limite nos leva à zona em que nada existe. A inexistência de átomo nos leva ao interior de um átomo. E eu não sei nem se existe um limite nem se um átomo existe.

TANG: Existe um mundo além da China?

XIA JI: Sim, idêntico às nossas pradarias centrais.

TANG: Como provas isso?

XIA JI: Chego a Ying indo para o leste. Os habitantes locais vivem como nós. Se eu perguntar a um deles como é o mundo ao leste de Ying, ele me responderá que é como em Ying. Chego a Bin indo para oeste. Os habitantes locais vivem como nós. Se eu perguntar a um deles como é o mundo a oeste de Bin, ele me responderá que é como em Bin. Portanto, julgo saber que, além dos quatro mares, além dos quatro desertos, bem como além dos quatro pólos, o mundo não é diferente do nosso. É porque o grande contém o que é pequeno que não existe nem limite nem fronteira. O que contém os seres também contém o Universo. Sendo o que contém os seres ilimitado, o que contém o Universo é ilimitado.

(Tratado do Vazio Perfeito, de Lie Tse. Landy Editora, 2001)

18 May 2009

A Tarde dum Fauno

"(...)
será que essas mulheres por ti cantadas
habitam a fábula dos teus sonhos?
Cuidado, Fauno, mesmo naquela que exibe mais decoro
a ilusão salta dos seus olhos azuis
e frios, como fonte do choro.
E a outra, suspirosa, dizes, é o seu contraste
e como a brisa no dia mais ardente
percorre o pêlo encrespado do teu corpo.
[Não!] Se o fresco matinal só deseja vencer
toda essa lassidão imóvel de calores sufocantes
não há murmúrio de água que não seja
o som da minha flauta a derramar acordes
líquidos sobre o arvoredo.
E depois o vento. Solto dos dois tubos,
impedindo o som de se dispersar numa chuva árida,
e que é no horizonte, sem rugas que o pertubem,
esse sopro visível, sereno, artificial
da inspiração celeste.
[esse visível e sereno sopro de inspiração artificial, que revolve o céu (minha tradução)].
(...)

O teu dever, instrumento de fugas, ó maligna
flauta, é de florescer nos lagos onde tu me esperas.
Eu, orgulhoso do meu som, continuarei a falar
das deusas; e através de idólotras pinturas
a enlaçar na sombra as mais finas cinturas:
E depois de haver sugado a claridade das uvas
para esquecer algum desgosto oculto entre os meus jogos,
risonho, erguerei aos céus o cacho consumado,
soprando nas suas peles luminosas, ávido
e ébrio, olharei de soslaio até que chegue a noite.

(...)"


(Trecho de A Tarde de um Fauno, de Stéphane Marllamé,
traduzido por Armando Silva Carvalho. Relógio D'Água, 2001)

10 May 2009

As aves 4

O tempo
tem olhos e escamas
e olha por via da luz.

A respiração do tempo borbulha
pelo olhar do peixe;


no silêncio.


Nada que faça mais que o olhar do peixe
é capaz de fazer existir as profundezas do mar.


K.A.G.

7 May 2009

As aves 3

o peixe e peixe e peixe ...

quando alargam seu tórax de escamas antigas.




K.A.G.

6 May 2009

Em Coimbra, Na Fonte das Lágrimas.
















Aqui é onde Inez de Castro e Pedro namoravam. E, também, onde ela foi morta.

Jon, eu e Márcio, em Coventry.















foto de K.A.G.

No carro com Márcio e João, indo para Évora.

Apesar de ter sido uma viagem que deu prejuízo a todos, principalmente de perda de tempo rs, foram dois dias muito agradáveis e felizes. Não foram à toa.

As aves 2

E aquelas que pensam,
fazem o peixe.

Todas aquelas que não pensam
o humano, jamais.

A obviedade de predizer
o próprio caminho

entre todos

pelo peixe.


K.A.G.