num estado aquietado de espio
vejo, velho, o Sergipe que nunca me viu
velhas em coques miúdos,
(aparições arredias que são)
temendo céu, raio, golpe de vento
tesoura aberta, espelho, trovão
quebranto, pegajosas jias,
um dia perder procissão, ave-maria!
olho vesgo, lesma, visgo no pé,
(vou me perdendo, aos poucos, da fé)
anjos rezando, altares, almas penadas, penares
perdidas perdições, santos maculados nos tetos
calangos torrados, abandonados, a sacristia sombria
silencio e cemitério, terços gastos nos dedos
dor de puteiros e estrada vazia, de confissões suprimidas
de tétano na carne da alma
piou o mocho! valha-me nossa senhora!
veneno de cascavel, - o véu da morte vem!
espanto de emas, cinzas vivas!
meu deus do céu, que segredo é esse?!
quem seca agora e desola o norte do poema?
curupiras, mulas, caiporas, crendices desoladas
criaturas banidas, danadas
lembranças perfumadas, sofridas velhices
quem disse da lembrança que tenho do deserto da minha alma?
“-pelan, pelan, pelan, pelan, pelanpelamparina”
o fim do mundo acabou! quem disse?
e Deus, quem disse?
e Eu, quem disse?
quem disse que existo Eu e Deus e o Sergipe?
três velhos
Poema de Chico Mattos
Obs: a gente já fica feliz de lançar um livro e ainda ganha poemas assim de presente :).
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