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8 February 2017

O Presságio das Arribações

As estações mudam, como de se esperar, ante as nossas vistas núbias. Arribações pressagiam desgraça. Uma festa de urubus tomando a cor do sol nascente. Preparam-se para limpar as carcaças.

Imigrações em massa. Início da seca, da fome.

Eu sou um pássaro e mesmo assim ponho um ovo a mais sobre a planície dos mundos. Por que questionar as vilezas de um tempo assim? Eu também tenho o meu fim no horizonte. Que eu então me ocupe de meu ninho e me esqueça das nuanças entre bom e mau. Isso eu deixo aos tolos. Que percam os seus digestivos.

Se questionar a maldade é somente questionar as grandes mídias, mesmo que não traga nada mais do que confusão, a que me serve? Que se dane o progresso do mundo. De nada saberei entre o mau e o bom espelhando-me em tolices. Eu não perco a minha face perante o tempo. Que eu sou finito, eu sei. Assim como todos os meus vizinhos. Logo, seguirei procurando rios e bebedouros.

Sei também o que há por vir. Que quando os urubus chegarem, eles serão os nossos heróis. E meus vizinhos os seguirão, mesmo depois de tanto os condenarem. E a visão do futuro será tomada por pássaros comendo os olhos dos mortos. E talvez de alguns vivos. Em suas vastidões, o medo e a fome girarão a grande roda do mundo mais uma vez.




Texto de Karinna A. Gulias

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