30 May 2008
Pele do Mundo
***
Filho descobriu que a pele é a alma do mundo.
Rasgou todas para si
e o céu passou a ser sua medida.
As nuvens [poeiras do vazio,
avisaram a marca de futuro
pela língua das cigarras.
As cigarras então passaram a esvaziar-se.
Suas línguas incharam com a água do céu.
***
[Engodo]
A nuvem não vê o homem próximo a espelhos.
Parte I - A Primeira História
Uma mãe feita para criar bois [espelhados],
administrar a base da terra para a permanência.
Fez um filho com a massa negra da noite.
Uma mãe feita para criar bois [gigantes]
e aumentar a sua sombra.
Acendeu velas
para o dia em que seria dona de cria.
Com o movimento,
seu nome mudou-se para outra casa;
pertence a outro número. A outro ofício.
Na mudança:
— De todos os rios por que passou,
ficou-lhes terços de seu cabelo, agora branco,
como espuma de mar.
À noite os rios a visitavam e derramavam
transparências em seu peito. De seu ventre, então,
nasceram cabelos de estrelas e espumas de mar. —
Mais uma vez seu nome foi mudado de casa,
até a vontade se retrair.
Seus cabelos caíram e o nome passou a ser:
poca sombra
e por fim
Nasceu um menino.
1 May 2008
24 April 2008
Outras Notícias
que salivam por qualquer osso.
Rimar Ipanema com morena
é moleza,
quero ver combinar prosaicamente
flor do campo com Vigário Geral,
ternura com Carandiru,
ou menina carinhosa / trem pra Japeri.
Não sou desses poetas
que se arribam, se arrumam em coquetéis
e se esquecem do seu povo lá fora.
23 April 2008
20 April 2008
O Reflexo de K. R.
Não é uma fronteira
Cercada de uz
Se parece mais com o que divisa um lago
Ou com a imagem da nuvem que toca sem tocar
esse lago do nosso olhar.
Tratado dos Anjos Afogados
14 April 2008
A Permanência das Coisas
"Hoje, na cultura de massa, na sociedade de consumo, desenvolveu-se o menosprezo pelas coisas. as coisas não duram. as coisas não têm permanência nem relação com o homem. elas, por si, são perecíveis e pedem a sua destruição na exigência de uma reatualização de mercado. as coisas são destruídas para manutenção da subjetividade daquele que a destrói. a coisa não é mais sagrada. sem o sagrado não há a reverência e a gratidão por tudo o que se consome. consumo tornou-se expressão e destruição. antigamente as coisas duravam uma vida. envelheciam com o homem. a vida em verdade passou hoje a ser uma contagem de duração das coisas.
O poeta deve amor pelas coisas. ele precisa compreendê-las, caso contrário sempre estará restrito a sua individualidade. será sempre o poeta de si mesmo. o cantor do eu. ser poeta é habitar o entreato das coisas."
Trecho do texto de Márcio-André retirado de:
http://www.confrariadovento.com/revista/numero2/marcioandre.htm
8 March 2008
A CIDADE
..............sobra de uma outra cabeça
este corpo
..............estriado nas extremidades
este corpo
..............dado por alghém
entrevisto
..............nos ângulos
..............dos ângulos...... de um labirinto —
..............a cidade começa nas tardes
à noite
..............oferta uma vinha de luzes]
..............[.. ]
..............[ ..]
e um dia
..............no fim da rua
a cidade encontrará outra cidade
..............outro labirinto entre labirintos
Dança em Depósito
são montados do Pó dos pés
As pessoas Giram
As Casas Povoam os pés
das pessoas que as circulam
Nas silhuetas tensas das casas
[com o andar mais fundamentado]
a Luz se Firma nas Paredes.
10 February 2008
Contos do Céu
Todas as pessoas de grãos vivem até que os transformem. Para se pensá-los é preciso considerar que se pode armazená-los, em estocagem de grãos. A abertura para o armazenamento é o fundamento para a consideração das pessoas.
As pessoas que morem naquele bairro, onde o solo é propício, são amassadas até fazer um purê. A partir daí alguém os coloca em esterilização, partindo para a liquefação, o que facilita o transporte, sem a necessidade de gasodutos, caríssimos; apenas de carros criogênicos. A sacarificação, por final, é feita, simultaneamente com a fermentação.
Pessoas decantadas até que deixem de ser, pois são divididas em gás e líquido. A metafísica, portanto, nossa grande criadora de álcool anidro carburante; já que, sem ela, nada decantado andaria.
Do milho, debulhado e amassado, lavado, secado, decantado, temos a sublime transformação em álcool de qualidade industrial – álcool anidro: destilação azeotrópica ou por peneira molecular – passando, por último, por separação da vinhaça, evaporação e secagem do subproduto.
Daí as pessoas-grãos desexistem por passarem a ser conterrâneos da decantação.
31 January 2008
Zunái
Além do meu texto vocês podem conferir na Zunái:
Traduções de Jorge Luís Borges, Alejo Carpentier, Lorine Niedecker, Gao Ge, Giórgos Seféris, poetas contemporâneos do Chile;
Poesia ibero-americana: Armando Freitas Filho, Rodrigo Garcia Lopes, Ernesto de Melo e Castro, Alfredo Fressia, Jorge Melícias, André Sebastião, Luís Carlos Mussó, David Bustos, poetas contemporâneos da Venezuela;
Contos de Nelson de Oliveira, Marcelo Tápia, Rodrigo de Souza Leão, Abreu Paxe.
Para conferir é só entrar nos links abaixo:
Zunái: http://www.revistazunai.com.br/poemas/index.htm
Blog do Claudio Daniel: http://cantarapeledelontra.zip.net/arch2008-01-13_2008-01-19.html - Galeria Matisse.