Podemos ver, antes de qualquer mudança, o sinal ou sinais de que uma mudança está a caminho. Às vezes, essa é pequena, outras, uma mudança imensa do paradigma mesmo se choca contra as nossas civilizações. O que importa, em si, entretanto, não é a mudança, pois ela é inevitável na maioria das vezes, mas a maneira como reagimos a ela, seja como um grupo social ou individualmente.
Da parte cristã do mundo, que permeia a aliança do mercado transatlântico, é que me refiro aqui, pois é o mundo que eu conheço e no qual convivo. Nós observadores do mundo do espetáculo, vemos com um olhar atordoado o desespero de um império a ponto de cair, de um povo (ou dois - Israel incluído) militarizado até às unhas e também na mente, dos seus poderes concentrados em mãos corruptas, famílias poderosas lutando com unhas e dentes para explorar o máximo possível de riquezas da sua terra antes dessa entrar em um inverno duradouro. O egoísmo que pervade toda uma comunidade incapaz de compartilhar e trabalhar para o bem comum. Uma comunidade que se diz fundamentalmente judeu-cristã, mas que não sabe dar, muito menos receber sem ter que dar algo em troca, na maior parte das vezes a sua própria dignidade.
Seguimos um caminho pedregoso, cheio de perigos, esses que crescem dentro de nós, nas sombras ignoradas da consciência e alma. Perigos que crescem na falta de compaixão e empatia. Todos se tornaram nossos inimigos, quer compatriota ou não, estrangeiros da nossa bolha afetiva, seja de que tamanho seja essa bolha, muitas vezes encerrando apenas um indivíduo, infeliz e paranóico. Compartilhamos palavras de ódio como se fossem opiniões de alto calibre intelectual, compartilhamos ignorâncias que causam sofrimento, desumanizamos para politizar a cultura, as identidades e as realidades produzidas em massa por algoritmos e para propagandear ainda mais a nossa língua mãe até virar uma prostituta a serviço do patriarcado senil.
Agora, no ápice da decadência cristã, vendemos o slogan de que a empatia é uma falta e não mais uma virtude: "The fundamental weakness of Western civilization is empathy" - Elon Musk. E os consumidores de tamanha afronta, dando palmas e gritando Aleluia! em volumes ensurdecedores, são os que se dizem mais cristãos que qualquer outro. E assim caminhamos em direção ao fim do cristianismo. É preocupante? Sim, muito, especialmente para os grupos minoritários e os desfavorecidos. Porque são eles os que sempre sofrem a ira dos que não querem perder os seus privilégios, da máquina desumanizadora, da máquina da guerra.
Mas como podemos reagir ao fim do cristianismo que conhecemos de maneira que podamos seguir em frente e amar uns aos outros? O primeiro esforço estaria em não distanciar-se dos seus princípios mais humanizantes. A partir daí, qualquer remédio seria pura especulação, mas eu consigo ver no horizonte os deuses lutando para nos acompanhar nos momentos mais sombrios que estarão por diante.
Que o amor e os deuses te acompanhem.
Karinna Alves Gulias